Eu ainda era criança, não lembro direito a idade, acho que entre 9 e 10 anos de idade. Periferia de São Paulo, extremo Leste, num bairro que começou como invasão, que foi liberado pela então prefeita Luiza Erundina, no bairro chamado Jardim da Conquista.
Meu pai era padeiro e minha mãe dona de casa. Nossa casa tinha apenas 2 cômodos grandes, um banheiro e um quintalzinho. Nunca faltou comida na mesa, graças a Deus, mas passamos por bons apertos e renúncias para poder ir construindo e melhorando as condições de moradia. Lembro que passávamos a semana inteira comendo ovo, e, um franguinho só aos finais de semana.
Apesar de todas as dificuldades, sempre fomos muito felizes! Reclamar nunca foi um hábito para nós. Desde sempre eu gostava da escola e de estudar. Conhecemos uma costureira, que hoje considero ela como tia, a Ângela, que nos convidou para um trabalho na casa de uma membra da igreja presbiteriana com as crianças.
Como meus irmãos eram muito pequenos, fui apenas eu. Lembro que aceitei Jesus no primeiro dia que ouvi a Palavra, ministrada por uma doce discípula de Jesus que atendeu ao chamado de Deus e foi levar a Palavra numa periferia esquecida da cidade, cujas ruas ainda eram de barro.
Ali, fui aprendendo mais da Palavra, participei de concurso de versículos bíblicos decorados, e lembro que ganhei. Eu era muito competitiva naquela época! Mas fato que os versículos que ali aprendi, nunca mais esqueci! Versículos como João 3.16, Lucas 19.10, João 8.32 ficaram gravados dentro de mim.
Em pouco tempo, começaram um trabalho com adultos, e, minha mãe também foi alcançada pela graça de Deus! Passamos um bom tempo firmes na fé! Depois lembro que contrataram uma perua para ir na Igreja Presbiteriana da Vila Diva, e íamos aos domingos de manhã. Lembro também das Escolas Bíblicas de Férias, que era uma alegria para mim. Abriram uma igreja pequena no bairro depois de um tempo e éramos fiéis nas reuniões. Lembro com carinho da Escola Bíblica Dominical. Não é à toa que até hoje tenho um carinho especial pela Igreja Presbiteriana.
Todavia, depois de um tempo, fecharam a igreja e fomos nos desmotivando de ir. Até que meu pai decidiu que deveríamos batizar na igreja católica quando já tinha uns 12 anos. Logo comecei a frequentar a igreja católica, indo para as missas e para os cultos da renovação carismática. Fiz até a primeira comunhão!
Mas quando tinha 15 anos, abriram um ponto de pregação na minha rua, bem pertinho de casa, da Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo. Lembro que após uma pregação sobre o sacrifício de Jesus, na qual eu chorava sem parar, eu e minha mãe decidimos seguir a Cristo.
Ali tive algumas experiências com Deus. O Espírito Santo foi trabalhando na minha vida, me colocando um desejo de me separar para Deus. Fui deixando de ouvir músicas que não fosse de adoração, desejo de assistir televisão, dentre outras coisas. Mas era uma coisa pesada de fazer, nem porque alguém mandou fazer. Fui perdendo a vontade. Comecei a ler a Bíblia e anotar as coisas que entendia.
Agora, luta foi para ir pra igreja local. No ponto de pregação estava na minha zona de conforto. Ficava envergonhada de estar no meio de muitas pessoas. Parecia que todo mundo estava me olhando. Tinha a sensação que as jovens da igreja estavam rindo de mim, cochichando. Coisas da minha cabeça que o inimigo colocava. Apesar disso, me sentia muito bem no momento do louvor e da Palavra.
Coitada da Taís e do Rogério (hoje pastores da Igreja O Brasil para Cristo do Jardim Nova Vitória, mas na época nem eram namorados)! Iam me buscar em casa, e eu não me arrumava para ir, porque estava com o sentimento de que não era bem-vinda lá. E aí eles falavam, vamos Dani, se arruma rapidinho, a gente te espera. Perdiam parte do culto só para me levar. Sementes de amor que brotaram na minha vida!
O Rogério, assumiu a liderança dos jovens e começou fazer um trabalho de discipulado comigo na minha casa. Lembro que fazia muitas perguntas cabulosas! Mas ele sempre respondia, e era sincero quando não sabia, que iria procurar a resposta. Além disso, sempre me emprestava livros cristãos! Eu amava ler! Foi muito importante para minha edificação e crescimento! Mais sementes que brotaram em mim!
Assim, eu, minha mãe e a Sueli, esposa do meu tio, fizemos um curso para batismo e nos batizamos acho que em 2001, na Igreja O Brasil para Cristo de São Mateus. Lembro que chorei muito na hora do louvor e na Palavra. A água estava gelada e estava frio nesse dia. Mas foi um dia que meu coração transbordou de alegria! A essa altura já estava firme e não perdia nenhum culto.
Não demorou para nos envolvermos no Ministério Infantil. Fomos levar meus irmãos Rafael e Felipe para a Escola Bíblica das crianças num sábado à tarde, e a Miriam, líder da MENIBRAC, nos chamou para ajudá-la. Disse que estava orando pedindo a Deus que enviasse pessoas para ajudar, e que quando nos viu o Senhor falou que éramos nós as pessoas que ela precisava. Aceitamos. Foi um discipulado para nós na questão do serviço ministerial. Ela fazia com muita dedicação, sempre orando, pedindo direção a Deus e na dependência do Espírito Santo. Sempre dava o melhor em serviço! Começamos ajudando a criar atividades criativas, decoração das Escolas Bíblicas de Férias, depois com os louvores e por fim, estávamos contando as histórias da Bíblia e outras como a da missionária Amy, que me marcaram desde a época da Igreja Presbiteriana. Experimentamos o amor infinito de Deus e aprendemos a serví-lO com excelência!
Aos poucos, fomos crescendo na fé. Eu amava louvar ao Senhor, apesar de não ter nenhuma técnica e boa voz para isso. Mas eu me rendia de coração, levantava as minhas mãos, chorava, dançava, pulava. Uma mistura de coisas. Até que um dia, veio a missionária Bânia pregar na igreja, e, depois da Palavra ela foi usada por Deus para falar que Deus queria me usar no louvor, como ministra de louvor. A Miriam que também era líder do grupo do louvor me chamou para fazer parte do grupo e tive uma participação relâmpago e, por questões de imaturidade espiritual saí do grupo e daí nunca mais voltei a fazer parte. Mas umas pouquíssimas vezes louvei com playback. A verdade é que isso é uma área que eu ainda preciso ser tratada pelo Senhor. Eu cheguei a negar que fiz parte do grupo de louvor uma vez, pela dor que isso traz no meu coração. Não sei explicar, enterrei esse talento e isso me constrange e envergonha. Todavia, estava nos planos do Senhor usá-lo no tanque como vou explicar mais à frente.
Apesar disso, do banco continuei louvando ao Senhor com todo o meu coração. E no ministério infantil comecei a fazer coreografias para as crianças dançar. A primeira vez que fizemos, foi eu e a Taís que criamos, com a música “Quero celebrar” do Diante do Trono. Era para a festividade. Como aprendemos com a Miriam, oramos e pedimos direção a Deus, para que o Espírito nos conduzisse e foi o que aconteceu, além disso, aprendemos que tudo tinha que ser para a honra e glória do Senhor! Sempre nos ensaios orávamos por isso. Uma coreografia muito simples, mas o Espírito Santo deu graça e a igreja foi tocada pelo Senhor. Daí para frente, continuamos fazendo coreografias para todas as festividades e sempre no mesmo propósito.
Sempre íamos para a Escola Bíblica, que por um tempo era uma hora antes do culto, ministrada pelo Fabiano, que estava fazendo Teologia no Mackenzie. Ele também foi uma referência no cuidado com a Palavra. Fez até um curso de liderança que fiz junto com alguns irmãos em 2004, quando fiquei um ano em São Paulo, esperando a greve da Universidade Federal de Campina Grande acabar.
E assim Deus foi cuidando de nós e nos dando crescimento. Mas teve um dia que o Senhor falou poderosamente comigo em Isaías 6, no chamado de Isaías. Lembro que nesse dia chorei bastante, mas não entendia como seria enviada e nem para onde. Mas a voz do Senhor foi clara! Assim como Isaías eu disse: Eis me aqui!
Continuei servindo ao Senhor no ministério infantil e participando ativamente no grupo de jovens. E, num dia que parecia ser um culto tranquilo, o Senhor usou a palavra ministrada por Sebastião Luiz, um irmão muito amoroso e querido, que pregou em Gênesis 12! Eu chorava copiosamente ao ouvir a voz de Deus, também não sabia como e nem para onde, mas o Senhor foi claro dizendo que me enviaria:
1 Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei.
2 E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.
3 E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.
Gênesis 12.1-3
Não demorou muito, e meu tio falou com meu pai que queria abrir uma padaria com meu pai, fazendo uma sociedade com ele, mas que teríamos que nos mudar para Campina Grande, na Paraíba. Dessa forma, ficou acertado que eu iria na frente e depois minha família iria. E lá fui eu em fevereiro de 2003, fazer o 3º ano do Ensino Médio, morando na casa do meu tio. O Senhor me enviou.
Lembro do dia que cheguei lá, recebida com muito amor e carinho por aquela família. Comi arroz de leite com carne de sol no jantar. E quando fiquei sozinha no quarto, me ajoelhei aos pés da cama e orei: “Senhor, tu me enviaste e agora estou aqui. A sua Palavra diz que onde eu pisar a planta dos meus pés o Senhor tem me dado por herança, em nome de Jesus, quero ganhar essa família para o Senhor! Faça a Tua obra nesse lugar e me usa como Teu instrumento. Em nome de Jesus, amém!”.
Meu tio já sabia que eu era da igreja, pois havia falado que precisaria ir em alguma igreja lá. Então, ele me levou algumas vezes na Igreja O Brasil para Cristo de lá, mas ficava longe da sua casa. Tinha um jovem que morava lá perto que era de lá e, por um tempo, íamos juntos de ônibus, mas não lembro, acho que alguns dias ele não estava indo, daí eu não ia também. Algo do tipo. Assim, visitei outras igrejas mais próximas, mas não me identifiquei. Acabei ficando um longo período sem congregar, mas sobrenaturalmente foi o período que Deus mais se revelou a mim. Orava, jejuava e lia a Bíblia constantemente. E continuava orando para Deus alcançar aquela família.
Meus tios começaram a trazer o terço para a casa deles. E me lembro que um dia triste, na parte de trás da casa, orei ao Senhor: Senhor, como o Senhor quer que eu alcance essa família. Me dê uma estratégia. E aí a vizinha colocou um CD, e começou a tocar “O amor nunca perde”, de Marquinhos Gomes:
O Amor Nunca Perde
Marquinhos Gomes
Não adianta lutar
Com as armas do mal
Levante a bandeira do amor
E esse vento vai passar
O nosso Deus nunca dorme
E sempre está vendo tudo
E num piscar de olhos
Jesus toma a frente sua vida
O amor nunca perde
O amor sempre vence
O amor prevalece na vida daquele
Que serve a Jesus
O amor nunca perde
O amor sempre vence
O amor prevalece na vida daquele
Que serve a Jesus
Lute com as armas do bem
E obterás a vitória
Águas passadas não movem moinhos
Dos seus pecados Deus esqueceu
O nosso Deus nunca dorme
E sempre está vendo tudo
E num piscar de olhos
Jesus toma a frente sua vida
E daí o Espírito Santo foi muito claro: é o amor! A estratégia é o amor! Daí indaguei: Mas como, Senhor? E Ele me respondeu: através do serviço! Você vai servir a eles, vai fazer o seu melhor, vai cuidar dos seus primos, vai lavar a louça, vai ajudar a eles no que eles precisarem! E assim eu fiz!
Mas teve um dia especial, que o Espírito Santo mandou eu declarar no mundo espiritual que eles pertenciam a Jesus! Que era pra eu orar pela casa toda, num dia que eles saíram à noite! E assim eu fiz novamente.
Prossegui firme na missão, mas não estava inserida num corpo e numa cobertura espiritual. Mas não demorou muito, e Deus enviou minha mãe e meus irmãos, para trabalhar no Mercadinho que me tio abriu, e tinha uma casa simples mas muito boa ao fundo do mercado. E ali na frente da casa, vinha um ônibus buscar pessoas para ir na Igreja Batista que veio de João Pessoa, com o Pastor Augusto. Fomos visitar e ali ficamos. E não demorou muito já estava envolvida com o ministério infantil de novo! E depois no de dança, mas agora dançando! kkk
Mas o mais importante, foi o pequeno grupo feito lá em casa, na qual meus tios começaram a participar, ouvindo a Palavra do Senhor. Teve até um evangelismo com jovens vindos de João Pessoa, com peças, danças, palavra e louvor na rua, foi muito bom!
Tava tudo indo bem, mas minha mãe não se adaptou ali, e foi para a Terra da mãe dela, Palmeirina, Pernambuco. Detalhe, meus pais se separaram no mesmo ano que fui morar em Campina Grande. Assim, voltei para a casa dos meus tios. Estava firme na igreja, sendo “barata de igreja”, como eles diziam. E eles só tinham ido no pequeno grupo, nunca na igreja. Lembro que para ir pra igreja na Escola Bíblica, eu levantava às 5hs, varria a casa toda, espanava tudo e deixava o café pronto na garrafa! Era o meu amor em serviço que continuava. Lembro que só orei em pensamento com o Senhor: Meu Deus eles ainda não tem sede do Senhor, não estou sendo sal da Terra e luz do mundo para eles?
Não demorou muito depois disso e meu tio declarou um dia sem eu menos esperar: Hoje eu vou pra igreja com você! E foi mesmo e nunca mais deixou de ir! Depois foi a minha tia e os meninos. Participaram de um encontro de casais e só formalizaram lá a entrega de suas vidas, que já eram do Senhor.
Eu estava radiante de felicidade! Até que chegou minhas férias e vim para São Paulo. Daí minha avó ligou para o meu pai e falou que não era para eu voltar não! Daí fiquei triste e pensei que meus tios não queriam mais lá. Fiquei muito chateada, achando que teria feito algo. Aí eu me organizei para voltar não mais pra lá. E um colega da faculdade de Patos, Anderson, deixou de morar com um colega de trabalho para dividir um apartamento comigo. Fui para lá. E ainda achando que meus tios não me queriam lá, Deus mandou eu escrever uma carta de agradecimento a eles, com um poema. Eu fiz, e fui lá, levei alguns presentes e a carta. Foi quando tudo foi esclarecido, minha avó havia inventado que não era para voltar para lá, acho eu que com ciúmes porque ela era “benzedeira”. Enfim, mas Deus tinha um propósito. Meus tios já estavam com Cristo, não precisavam mais de mim.
Assim fui morar com Anderson, e no mesmo prédio estava outra amiga, Kilma, a qual se tornou como uma irmã para mim. Tive muitos atritos com Anderson! Mas aprendi a amar e a perdoar também. Do mesmo modo, tentava servir meus amigos para que Cristo os alcançasse. Até houve sede, porque eu fui com eles na igreja Maranata algumas vezes, mas a obra ainda não se concretizou. Todavia, morando com eles, eu voltei para a Igreja O Brasil para Cristo, pois era muito perto de onde a gente morava. E lá foi muito bom! Ia com dois jovens pregar nos hospitais e na rua! Comecei a me envolver com os jovens e fui pro ministério da dança novamente. Depois de um tempo, na gestão da Suzana fui convidada para fazer parte do grupo de liderança. A gente começou a fazer almoço em casa com os jovens da igreja, depois que deixei meus amigos e fui morar com a Raquelzinha que era irmã da igreja. Foi muito enriquecedor também. Foi ali no meio dos jovens que estavam estudando na Universidade que começamos a conversar sobre ideias de pregar na Universidade. E um dos jovens tomou a frente nesse processo, Denilson, que nos juntou com outros jovens, que chamaram outros jovens. E assim nasceu a Missão Federal. Foi uma das melhores fases da minha vida cristã. Deus nos deu a visão de Atos 2.42-47! Um sonho que se tornou realidade! Éramos muito unidos, tinha oração de manhã antes das aulas, pequenos grupos de estudos, a gente se reunia nos corredores e nas “lanchonetes” pra comer, ah fizemos alguns almoços também! Depois, fomos visitar as igrejas uns dos outros! Outro patamar de cristãos!
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