Base Bíblica: Gn. 4.

É muito fácil a gente julgar a atitude de Caim ou fazer considerações precipitadas sem observar o contexto da Palavra. Ouvi certa vez, por exemplo, que Deus atentou para Abel porque Ele gostava mais do cheiro do sacrifício de animais, do que de vegetais.

Definitivamente, a diferença não estava no trabalho ou no tipo de oferta, mas sim na motivação seguida da atitude de ambos. Como consequência, um obteve a aprovação e outro a rejeição. Vamos atentar para Gênesis 4.1-7:

  1. Adão teve relações com Eva, sua mulher, e ela engravidou e deu à luz Caim. Disse ela: "Com o auxílio do Senhor tive um filho homem".
  2. Voltou a dar à luz, desta vez a Abel, irmão dele. Abel tornou-se pastor de ovelhas, e Caim, agricultor.
  3. Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor.
  4. Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho. O Senhor aceitou com agrado Abel e sua oferta,
  5. mas não aceitou Caim e sua oferta. Por isso Caim se enfureceu e o seu rosto se transtornou.
  6. O Senhor disse a Caim: "Por que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto?
  7. Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo".
Nos dois primeiros versículos conhecemos a identidade dos dois. Filhos de Adão e Eva, formavam a primeira família, cujo primogênito era Caim. Ainda não havia sido instituída a lei que privilegiava os primogênitos, mas se houvesse, Deus também não teria levado em conta, como não fez diferença Abel ser pastor de ovelhas e Caim ser agricultor.

Os versículos 3, 4 e 5, mostram a atitude de ambos ao ofertar. O versículo 3, diz que Caim trouxe do fruto da Terra uma oferta ao Senhor. Enquanto Abel (v.4) trouxe as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho. Observemos a diferença. O artigo indefinido uma deixa claro a imprecisão do que Caim trouxe para ofertar, foi uma coisa qualquer. Isso demonstra uma despreocupação e mesmo um descaso. Em contrapartida, o artigo definido as mostra a especificidade de Abel ao ofertar simplesmente o melhor das primeiras crias. Tais atitudes estão nos revelando as verdadeiras motivações implicadas. Ao dar a Deus o melhor da primeira parte, Abel estava colocando Deus em primeiro lugar. A sua motivação não foi outra senão adorar a Deus. Por ter tido a motivação e a atitude certas, Deus se agradou. O fato de Caim entregar a Deus qualquer oferta expressa que sua motivação não foi um ato de adoração, talvez apenas o cumprimento de um ato litúrgico, uma obrigação. O foco dele não estava no Senhor. O engraçado é que ele mesmo estando errado, “se enfureceu e seu rosto se transtornou” (v.5).

É impressionante como Deus sempre nos alerta quando estamos saindo do foco. A não aceitação foi um sinal para Caim de que algo estava errado. Só que ele não percebeu que era com ele mesmo. Daí esta atitude negativa à resposta de Deus. Mesmo sabendo em quem estava o erro, o Senhor mostra a sua misericórdia não só pelo sinal, mas quando o confronta diretamente nos versículos 6 e 7. Deus é direto ao perguntar o porquê de sua atitude negativa. Depois explica que se ele fizesse o bem seria aceito. Deus é bem claro em relação a seu erro, e alerta que quando não se faz o certo o pecado está à porta para dominá-lo. Para Deus o ter advertido dessa forma, é porque ele sabia o certo a se fazer, mas não fez. Como escreve Tiago (4.17): “Pensem nisto, pois: Quem sabe que deve fazer o bem e não o faz, comete pecado”. Era exatamente isso que Deus estava alertando a Caim.

8. Todavia, a repreensão do Senhor não foi suficiente para trazê-lo ao arrependimento. Vejamos as consequências disso e a misericórdia de Deus mais uma vez, nos versículos que vão do 8 ao 16:
9. Disse, porém, Caim a seu irmão Abel: "Vamos para o campo". Quando estavam lá, Caim atacou seu irmão Abel e o matou.
10. Então o Senhor perguntou a Caim: "Onde está seu irmão Abel?" Respondeu ele: "Não sei; sou eu o responsável por meu irmão?"
11. Disse o Senhor: "O que foi que você fez? Escute! Da terra o sangue do seu irmão está clamando.
12. Agora amaldiçoado é você pela terra que abriu a boca para receber da sua mão o sangue do seu irmão.
13. Quando você cultivar a terra, esta não lhe dará mais da sua força. Você será um fugitivo errante pelo mundo".
14. Disse Caim ao Senhor: "Meu castigo é maior do que posso suportar.
15. Hoje me expulsas desta terra, e terei que me esconder da tua face; serei um fugitivo errante pelo mundo, e qualquer que me encontrar me matará".
16. Mas o Senhor lhe respondeu: "Não será assim se alguém matar Caim, sofrerá sete vezes a vingança". E o Senhor colocou em Caim um sinal, para que ninguém que viesse a encontrá-lo o matasse.
17. Então Caim afastou-se da presença do Senhor e foi viver na terra de Node a leste do Éden.

Quando mais uma vez Caim é questionado, nega seu pecado, dizendo não saber de seu irmão. (vv. 8-9). E como Deus já sabia, é direto novamente, perguntando o que ele fez, e determina a sua sentença (vv. 10-12). Só depois de castigado, ele lamenta a sua realidade (vv. 13-14). Mas o pior era se esconder da face de Deus. Assim, quando ele reconhece sua condição, o Senhor demonstra a sua misericórdia e amor, fazendo-lhe uma promessa de proteção e vingança para aquele que o matasse, através de um sinal (v.15). Ainda assim, o pecado o separou de Deus, e a sentença foi cumprida (v.16).

Cabe agora essas perguntas para refletirmos: quais têm sido nossas motivações e atitudes diante de Deus? Temos tido um espírito de adorador, colocando Deus em primeiro lugar como Abel? Ou temos colocado o Senhor em qualquer lugar em nossas vidas, menos o primeiro, como Caim? Será que vale a pena morrer por fazer o certo, ou preferimos matar fazendo o errado? E quando pecamos: nos aborrecemos com Deus e damos nossas desculpas esfarrapadas ou procuramos nos corrigir, dando ouvidos a Ele? Será que estamos atentos aos sinais que Deus nos dá? Estamos sensíveis ao Espírito? Eis aí a questão-chave. Paulo deixa claro em sua carta aos gálatas, quando aconselha: “Por isso digo: Vivam pelo Espírito, e de modo nenhum satisfarão os desejos da carne” (Gl. 5.16). Só assim é possível viver em adoração, saindo do plano da obrigação e tendo Deus no centro de nossas vidas. Foi para isso que Jesus pagou o preço de sangue na cruz, para que vivêssemos para Ele: “E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co. 5.15). Esse é o desejo de Deus para nós. Todo o nosso EU deve morrer, para que nosso viver seja CRISTO, e o morrer, lucro (parafraseando Paulo em Fp. 1.21)! Essas são a atitude e a motivação que Deus espera de nós.


Daniely Silva Duarte